COP30 Report: Como Belém redefine a Agenda Climática Global

A COP30, realizada em Belém, confirma sua reputação como a COP da implementação. Diferente de edições anteriores, a conferência do clima deste ano pressiona governos, empresas e sociedade civil a transformar compromissos climáticos em políticas públicas reais, mecanismos de financiamento e ações verificáveis.

O relatório “Debates e Agenda da COP30 mostra que a primeira semana da conferência em Belém expôs tanto avanços relevantes quanto tensões que podem influenciar a agenda climática nas próximas décadas. Realizada na Amazônia, a COP30 também elevou a presença de povos indígenas e organizações sociais, ampliando debates sobre justiça climática e governança climática.

Adaptação Climática no Centro da COP30

Um dos temas mais fortes da agenda climática em Belém é a adaptação climática, impulsionada pelo aumento de eventos extremos no mundo.

A negociação do Acordo Global de Adaptação (GGA) avançou, mas ainda enfrenta divergências sobre indicadores globais capazes de medir resiliência climática de forma justa e aplicável. Essa disputa evidencia um novo consenso da política climática global em que a adaptação climática não é apenas técnica, é também social, cultural e territorial.

Outro ponto de destaque é o Belém Health Action Plan, aprovado durante a COP30, que reforça a preparação dos sistemas de saúde diante de impactos das mudanças climáticas, como ondas de calor e doenças associadas. Com esses debates, Belém consolida a COP30 como marco da adaptação climática dentro da conferência do clima.

Transição Energética e Financiamento Climático: Tensões da Conferência

A transição energética continua sendo um dos temas mais sensíveis da COP30. O plano apresentado por Marina Silva para redução global do uso de combustíveis fósseis recebeu apoio internacional, mas ainda enfrenta resistência dentro das negociações formais.

Ao mesmo tempo, países do Sul Global reiteram que não há transição energética justa sem financiamento climático adequado. Sem mecanismos de crédito, infraestrutura resiliente e transferência tecnológica, a transição pode aprofundar desigualdades.

A discussão sobre financiamento climático na COP30 deixa claro: a viabilidade da descarbonização depende de acesso a recursos, governança climática sólida e cooperação internacional.

Governança Climática Global e o Papel do Brasil

A governança climática é outro eixo forte da COP30. Com o sistema atual pressionado por metas insuficientes e lentidão nas entregas, cresce a necessidade de estruturar novos mecanismos multilaterais.

Nesse contexto, o Brasil propôs um Conselho do Clima ligado à ONU, capaz de coordenar metas, fortalecer transparência e acelerar implementação. A proposta, embora ainda incerta em formato e recursos, ganhou destaque na conferência do clima.

Outro marco da COP30 foi o lançamento do Tropical Forests Forever Facility (TFFF), fundo global voltado à preservação das florestas tropicais, com meta de mobilizar US$ 125 bilhões. O TFFF reforça o papel da Amazônia e do Brasil na política climática global, sobretudo na conservação de carbono florestal.

Agenda Brasileira: Mercado de Carbono, Fundo da Amazônia Legal e Plano Clima

A COP30 também foi palco para anúncios nacionais relevantes:

  • O governo lançou a primeira concessão florestal federal integrada ao mercado de carbono, unindo conservação e créditos de carbono.
  • Os estados da Amazônia Legal apresentaram um fundo com créditos ambientais para financiar 27 unidades de conservação, totalizando 8,9 milhões de hectares.
  • A nova secretaria dedicada ao mercado regulado de carbono oficializa a construção de um sistema nacional, previsto para 2027–2028.

Parte da tensão interna da COP30 gira em torno do Plano Clima, ainda pendente por divergências sobre como alocar 800 milhões de toneladas de CO₂ geradas por desmatamento legal, sendo um dos maiores desafios da agenda climática brasileira.

Sociedade Civil, Indígenas e Justiça Climática em Evidência

A COP30 em Belém é a conferência do clima com maior participação indígena da história. Mais de 3 mil indígenas e caravanas internacionais fortaleceram pautas de demarcação, preservação territorial e justiça climática. Esse protagonismo reforça que a política climática global precisa considerar saberes tradicionais, conservação florestal e participação social para garantir resultados duradouros.

Setor Privado Amplia Papel na Descarbonização

O setor privado chegou mais estruturado à COP30. Iniciativas como a SB COP, liderada pela CNI, mostram que empresas querem participar da implementação das metas climáticas, especialmente em temas como:

  • descarbonização
  • mercado de carbono
  • transição energética
  • soluções baseadas na natureza

Esse movimento indica que a economia de baixo carbono já é uma realidade estratégica para empresas brasileiras.

A COP30 É o Marco da Implementação Climática

A primeira semana da COP30 revela uma conferência do clima marcada por decisões estruturantes. Belém se tornou um ponto de inflexão para temas como adaptação climática, governança climática, transição energética e financiamento climático.

Se o restante da conferência consolidar esses avanços, a agenda climática em Belém pode redefinir o rumo climático global, especialmente no papel da Amazônia e do Brasil na construção de uma economia de baixo carbono.